quarta-feira, 3 de junho de 2009

GUERRA DE CANUDOS (1896 – 1897)


Governo de Prudente Morais contra Antonio Conselheiro

Introdução
Nesse período o Brasil era uma República e presidente era Prudente Morais (1894-1898), o primeiro civil a ocupar a presidência. A República foi proclamada, pois o regime Monárquico, já estava desgastado e não contava mais com o apoio social de cafeicultores (lutavam por regime democrático) e militares (buscavam maior participação política) -> principalmente após guerra do Paraguai.

Muitas revoltas ocorreram, pois as autoridades não tinham a menor preocupação com os problemas sociais como o analfabetismo, fome, falta de moradia e terras para os indivíduos das classes desfavorecidas, limitavam-se em reprimir esse movimentos

O Nordeste estava passando por um longo período de decadência econômica A partir de 1850. O principal motivo foi a queda do preço de açúcar no mercado internacional. Além disso, em outros lugares do nordeste, os produtos do sertão, o gado e seus derivados perderam o seu mercado tradicional, pois o charque e o couro do Rio Grande do Sul tomaram o lugar dos produtos do Nordeste. Os engenhos faliram.

Os Estados Unidos, grande produtor de algodão, passou por uma guerra civil que durou de 1861 até 1865. Isso incentivou a produção de algodão no Brasil principalmente no nordeste. Após 4 anos, com o fim da guerra, a produção de algodão do Nordeste brasileiro teve de enfrentar a concorrência do algodão americano, novamente em “circulação”.

Se não bastasse isso, as fortes secas de 1877 e seus anos seguintes agravaram a crise econômica, pois os sertões transformavam-se em um imenso deserto e os sertanejos deixavam suas terras em busca de água, e quase sempre não voltavam mais.
Aos poucos, os trabalhadores do nordeste foram atraídos para as regiões produtoras de café no Centro-Sul, para os seringais na Amazônia e as plantações de cacau no sul da Bahia. Tudo isso fez com que a migração interna do Brasil crescesse e afetou muito a estrutura de poder no sertão. Isto é, o coronel, perdeu sua “importância”, pois grande parte dos seus eleitores e apadrinhados migraram para outros lugares. Os que permaneceram no local e resistiram as secas ficaram a mercê de bandos de cangaceiros armados. Outros acabaram formando ajuntamentos de cunho religioso, como Antonio Conselheiro, na Bahia.

Nesse mesmo período a igreja católica passava por uma série de transformações, entre elas, “purificar” a fé (eliminando maçonaria e positivismo, protestantismo e outras religiões “intoleráveis”). Isso resultou com a aproximação da igreja e o povo nordestino. No sertão, surgiram pessoas que se dedicavam a realizar obras de caridade – beatos e beatas.

Positivismo: idéias contra religião / busca da razão


O Beato Antônio Conselheiro
Nascido em 1830, no Ceará, Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antonio Conselheiro tinha o pai comerciante simples, porem que pode oferecer uma vida sossegada para a família. Ele freqüentou escola de religião. Mais tarde em 1855 quando seu pai morreu ele tomou conta dos negócios da família.

Quando se casou em 1857, mudou drasticamente de estilo de vida, antes ele tinha uma vida um pouco pacata e seguia os exemplos o pai, quando casou passou a viajar por diversos povoados da região atuando em varias profissões. Antonio Conselheiro se “transformou” quando sua mulher o abandonou e fugiu com um policial. Antonio Conselheiro sumiu por um tempo e deixou seu passado para seguir o destino de uma missão. Ele achava que havia sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e os pecados Republicanos (impostos / intervenção do estado na igreja etc.)
Peregrinação

Sua aparência e modo de ser “estranho” causava admiração e respeito principalmente, pois ele demonstrava total desapego aos prazeres materiais e vivia de esmolas, alimentando-se somente do necessário e dormia sobre o chão, ou em algum banco (nunca em camas ou redes).

Durante mais de 20 anos, o beato fazia processões por povoados, entoando cantilenas ,carregando cruzes e um pequeno oratório com a imagem de Cristo. As pessoas saiam de suas casas curiosas para assistir de perto a entrada “triunfal de Antonio Conselheiro.

Ele não era considerado membro da igreja, porem fazia obras de caridade para a população mais pobre: construía casas de caridade, igrejas, hospitais e cemitérios.

A fama de Antonio Conselheiro, o beato solitário de aparência misteriosa, espalhou-se pelo sertão, envolvendo varias pessoas que passaram a seguir ele e auxiliar na realização das obras. Muitos achavam que estavam diante de um novo Santo. “Devido a isso muitas cidades ficavam despovoadas atingindo a economia do Nordeste”

Ele era um ótimo “orador” e seus fieis ouviam ajoelhados com fascínio o discurso que ele fazia. Normalmente ele pregava a salvação dos homens por boa ação, alertava o povo da ganância dos poderosos sobre os pobres, contra a escravidão e falava dos problemas populares. Ele criticava muito a República devido a intromissão do estado em assuntos religiosos como casamento e sepultamento:

-Antes da República a Igreja tinha um enorme poder sobre o estado. Naquela época não existia certidão do nascimento e o único “documento” que era possível receber era o de batismo. (portanto a igreja tinha certo “monopólio”: ou o cidadão era católico ou não era “ninguém”.);
-Com a República passou a existir a “certidão” do nascimento, o casamento no civil foi “liberado”, normas para uso de armas e os símbolos nacionais (selos, hino, bandeira) foram criadas. Essas mudanças fizeram com que o laço entre a Igreja Católica e o estado desaparecesse.

Antonio Conselheiro era contra a separação da Igreja e do Estado, mas mesmo criticando a Republica não era considerado um monarquista.
Repercussão das Peregrinações

Muitos padres percebiam que estavam perdendo sua influencia sobre o povo e os fazendeiros também. Eles começaram a ficar preocupados, pois a mão de obra nas fazendas começou a diminuir. As autoridades tentaram conter o avanço de Antonio Conselheiro mas não conseguiam.

Em 1893, o beato promoveu a queima de alguns editais republicanos que anunciavam os novos impostos feitos pelo novo governo (Isso foi no sertão da Bahia). Com isso as autoridades republicanas enviaram uma pequena tropa pra prender Antonio Conselheiro, mas ele fugiu e se refugiou em canudos (*1 e 2), em uma fazenda de gado abandonada, perto a uma curva do rio Vaza-Barris.

Enquanto isso, na capital da República, falava-se em uma conspiração monárquica que estava querendo derrubar o regime republicano. Quando as noticias sobre canudos chegaram até o RJ, as autoridades e a população falavam que era o centro de conspiração monarquista e seus seguidores eram muito perigosos, pois ameaçavam a estabilidade do novo tipo de governo (republica). Era necessário destruir Canudos!

A vida em Canudos
Pouco a pouco os seguidores começaram a chegar ao Arraial de Canudos: mais de 30 mil pessoas instalaram-se, foram construindo igrejas e casas (maioria eram ex-escravos (*5). Em média construía-se 12 casas por dia(*4). O lugar era apenas uma rua que partia da praça da Igreja Velha que dividia a cidade em duas partes. Além das casas Canudos contava com duas escolas, algumas farmácias, oficinas e alguns estabelecimentos comerciais.

Alguns moradores de lá eram foragidos e perseguidos das autoridades policiais que viam a oportunidade de uma vida melhor. Para entrar em Canudos era muito difícil, Antonio Conselheiro que decidia quem podia morar ou não ali. Além disso, ele fazia muitas normas de conduta: proibida bebidas alcoólicas, prostituição, crimes etc... (*3)

Todos entregavam tudo o que possuíam para Antonio Conselheiro e tinham que trabalhar, sem exeção, fazendo a propriedade tornar-se coletiva sem imposto, sem policia, e sem “patrão” e “empregado”. De noite a multidão se reunia para ouvir as pregações de Antonio Conselheiro

A segurança em Canudos
As autoridades republicanas estaduais não sabiam direito o que fazer com esses “fanáticos” reunidos em Canudos. A igreja, vendo que o movimento crescia e escapava do seu controle chegou a enviar três frades para realizar a “santa missão”, que tinha como objetivo verdadeiro, dispersar a população do arraial.
Conselheiro recebeu eles com cordialidade mas quando eles tentaram convencer os fiéis que estavam errados a missão fracassou pois Antonio Conselheiro contava com a proteção de mais de 600 jagunços que atuavam como guarda católica de canudos (companhia de Jesus) e os padres foram exilados de lá.

Os jagunços eram homens armados uniformizados escolhidos entre os melhores para a luta e estavam sob a chefia de João Abade, conhecido como o “Chefe do povo.
Como Antonio Conselheiro já estava com mais de 60 anos, ele contava um grupo de pessoas de sua confiança para que a cidade “prosperasse”. Segundo o pensamento da população de Canudos: “o resto do país estava contaminado pela Republica” Com o passar do tempo esses jagunços utilizavam essa idéias para justificar roubos e suas atitudes agressivas Conselheiro punia delitos leves “ao seu modo” e encaminhava as autoridades os delitos “mais graves”.

A Igreja Nova – O começo de uma guerra
Como a cidade cresceu muito, a Igreja Velha foi se tornando frágil e muito pequena. Antonio Conselheiro resolveu então construir um templo maior, que servisse também de fortaleza. A construção dessa igreja mobilizou a maioria da população de Canudos.
Um simples mal entendido causou o começo da Guerra: Para finalizar a obra, Antonio Conselheiro tinha encomendado mais madeira em Juazeiro (Bahia). Ele pagou com antecedência porem a madeira não chegou no prazo previsto. Preocupado com o atraso da construção da nova igreja mandou avisar em Juazeiro que se o problema era falta de carregadores ele iria mandar seus adeptos.

Esse aviso de Conselheiro foi entendido como “ameaça” (desde a queima dos editais, a situação estava tensa entre eles) e serviu como pretexto para movimentar uma repressão contra eles. O juiz de Juazeiro pediu ajuda ao governador da Bahia, que enviou mais de 100 homens para a cidade. Era o início de uma guerra...

Uma luta demorada...
Quando as autoridades da Bahia decidiram eliminar o grupo de Antonio Conselheiro não imaginavam que o combate ia durar tantos meses. O exército não estava preparado para um guerra como aquela pois além de não conhecer a região, não “conheciam” seus adversários. O ambiente da caatinga virou uma vantagem para os sertanejos, em relação as tropas do governo.

Além do calor e da falta de água, a vegetação piorava a situação, algumas plantas rasgavam as fardas dos soldados, causava quieimaduras. Os animais utilizados para transportas alimentos e munições sofria com o clima e muitos morriam no caminho. A fome era inevitável. As péssimas condições sanitárias atraia doenças e nas quatro expedições que ocorreram centenas de soldados morreram sem nunca ter combatido.

As emboscadas
Eles eram presas fáceis aos Jagunços de Conselheiro. A tática de emboscada dos sertanejos surpreendia os soldados. Os jagunços eram cautelosos e economizavam munição com tiros certeiros. As vezes eram muito poucos jagunços mas como ficavam escondidos, mudando rapidamente a posição de cada tiro, pareciam ser muitos. Como os soldados não viam os inimigos, as expedições não foram muito bem sucedidas. Ao todo foram feitas 4 expedições contra Canudos.

Primeira expedição
Em 1896, o governo resolve atacar Canudos. As autoridades da Bahia mandaram para Juazeiro uma tropa de 2 guias, 1 médico e 113 soldados para dispersar os seguidores de Antonio Conselheiro. Como todos estavam em Canudos, o comandante da expedição optou por ir até Canudos “buscar” seu inimigo. (mais de 200km)
Essa expedição foi um fracasso. Antes mesmo de chegar em Canudos foram cercados por jagunços de Conselheiro, a batalha durou de 4 a 5 horas. Os relatórios sobre o confronto eram cada vez mais aterradores, repercutindo em RJ, nas capitais das províncias, nas redações do jornal, em restaurantes, livrarias, nos ministérios, etc. (Para o governo, se tratava de outro episodia que deveria a ser abafado.).

O relatório da guerra assustava, ao denunciar as atrocidades (soldados sendo mortos a golpes de facão, e estado lamentável das tropas). Ele pode sintetizar todo o drama vivido no Brasil naquele início de Republica. Um inicio conturbado com conflitos de diferentes “civilizações”, de diferentes “mentalidades”, de diferentes “modelos” resultando em um colapso de valores.

Segunda expedição
A segunda expedição contou com 1 médico, 1 farmacêutico, 1 enfermeiro e 609 soldados armados com armas modernas e letais: dois canhões Krupp (alemães e tres metralhadoras. Eles achavam que iam ganhar facilmente e deixaram mais de 2/3 da munição na cidade (*12). Como “Conselheiro” tinha vantagem de conhecer os melhores lugares de posição de tiro a expedição novamente foi um fracasso e devido a emboscada em Serra do Cambaio foi repelida em janeiro de 1897.

Terceira Expedição
A terceira expedição, comandada pelo coronel Moreira César, contou com mais de 1300 combatentes, que foram armados com baionetas e 6 canhões. Em março de 1897, essa expedição foi dispersada, deixando muitas armas e munição para os jagunços de Antonio Conselheiro. (*11)

Quarta Expedição
A quarta e ultima expedição foi a maior e reuniu além da marinha brasileira, mais de 3.400 soldados de 17 diferentes estados brasileiros, todos portando armas modernas(*9). O confronto começou com vantagem dos Jagunços de Conselheiro porem o reforço de mais de 3000 soldados e 24 estudantes de medicina fizeram com que o exército finalmente saísse vitorioso. Euclides de Cunha, chamado pelo jornal Estado de São Paulo para fazer uma série de reportagens, escreveu paginas sobre a Guerra de Canudos em seu livro, “Os Sertões” de 1902 (que pode ser considerada uma crítica humana e uma incompreensão entre as elites governamentais). O seu livro é considerado hoje em dia uma obra-prima da literatura brasileira pré-modernista. Ele dizia que existia uma “discordância radical entre as cidades da costa e as telhas do interior, que desequilibra o ritmo do nosso desenvolvimento evolutivo e perturba a unidade Nacional”. Isto é, os soldados republicanos foram convocados para uma guerra com um “povo que não conhecia”, e eles se viam em “terras estranhas”. “Os sertões” mostrando a diferença “cultural” entre esses dois povos brasileiros:

Ele também nos mostra o conflito vivido por esses jovens oficiais e soldados, que não tinham noção do que faziam naquela campanha militar fratricida. Ele não entendia como um exército tão bem equipado demorava tanto para conseguir vitória Por Ora, a república estava salva.
(*13) Conselheiro morreu em 22 de Setembro de 1897e no mês seguinte, as tropas do governo conseguiram tomar Canudos. (*7) Seus seguidores não se renderam e resistiram até o fim(*10). As últimas palavras dele:
Eles acabaram sendo vencidos pelo cerco que os impediam de sair do local para buscar alimento. Muitos morreram de fome. Depois da guerra mais de 5.200 casas viraram cinzas.

A guerra representou a luta pela libertação dos pobres da zona rural sobre as influencias e realidade Republicana. A resistência mostrou o potencial do sertanejo defendendo seus ideais (*17 e 18)

LEGENDA
(Curiosidades)


1- Nome do lugar era canudos devido a uma planta chamada Canudo-de-Pito. Os antigos moradores fumavam longos cachimbos
2-Antonio Conselheiro rebatizou Canudos de Bello Monte.
3-Uma das primeiras providencias dos conselheristas ao se estabelecerem ao belo monte foi cavar trincheiras e participar de exercícios de tiro (UMA MEDIDA DE SEGURANÇA IMPORTANTE DEVIDO AO ATAQU DO GOVERNO)
4-Em quatro anos tornou-se a segunda maior cidade da Bahia com mais de 25.000 habitantes (salvador tinha 200.000 na época)
5- Possui tantos negros que muitos pensavam que canudos era o ultimo quilombo
7-Na guerra morreram mais de 25.000 pessoas alem de destruírem a cidade de canudos.
9-Machado de Assis escreveu em sua coluna de Jornal gazeta de noticia um protesto contra a perseguição que o governo estava fazendo a Antonio Conselheiro em canudos
10- Oficiais que participaram da guerra do paraguay afirmaram: Jamais vimos um combate como o de canudos
11- O governo Luis Viana declarou: “se for pegado Antonio conselheiro tudo estará terminado, porem se ele fugir será preciso persegui-lo onde quer que ele esteja para não formar mais grupos.
12- Um oficial escreveu em seu diário:”a fome tortura, o calor queima, a sede abranja, a poeira sufoca e os olhos esbugalhados fitam o vaco”
13- As torres da igreja nova foram tomadas pelo exército
14- ultimas palavras de Conselheiro: texto Tainá
17 – A cabeça d Antonio conselheiro foi cortada e levada a Salvador
18 – em Março de 1905 pegou fogo a faculdade de medicina de Salvados e destruiu a cabeça dele.
Positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos externos, como a criação do homem, por exemplo, para buscar explicar coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como no caso das leis, das relações sociais e da ética